Quando uma fotografia desvia o caminho


"En tiempos del covib 19. Acudir a una unidad de salud es lo último que alguien desearía. El miedo al contagio está presente, en Cuba en China o en cualquier lugar del mundo.
    Hoy me tocó, una urgencia estomatologíaca. Dude, sude frío, más no tenía otra opción.¿ Existirá hoy un estomatogo disponible?. pensé. Pués si. Y de calidad y especializada. En pocos minutos resolví mi problema. Sin costo claro alguno.  Que felicidad tan grande. Viví una experiencia única.
     Tanta mentira que se pública en el mundo en contra del sistema de salud de Cuba. Tanto que se denigra y de los jóvenes. Pues la foto habla por sí sola.
        Un abrazo de éste cubano que vive orgulloso de su país." Júlio HR


Em tempos de quarentena, propus a alguns amigos pelo mundo que estabelecêssemos um diálogo por fotografias. A ideia é que num dia eu envio uma foto, no outro meu/minha correspondente responde com outra imagem. E assim tem sido. Uma experiência cheia de beleza, afeto e afetação num momento de isolamento.
Pois bem, um dos meus interlocutores é meu querido amigo Júlio, que de Cuba me envia imagens de encher os olhos de beleza, o coração de saudades e a alma de questionamentos. Ontem, além da fotografia costumeira para a manutenção do diálogo, Júlio me lançou um desafio: que no dia seguinte nós enviássemos fotografias com um/a pessoa que trabalhasse no sistema de saúde.
E agora?
Em 2015 fui com minha família para Havana, ficamos hospedados na casa de Júlio. Andei com ele pela cidade, no seu moscovich, olhávamos tudo e conversamos muito. Fiz várias fotografias em sua companhia. Passaram pelas minhas lentes pessoas, lugares, paisagens, situações... Em algumas oportunidades cruzamos com militares e Júlio dizia: você não faz fotos de militares? Eu com receio de arrumar problemas não fazia. Uma das vezes, a caminho de Santa Maria, passamos por uma militar que pedia carona. Nesse momento, Júlio mais uma vez sugeriu que eu fizesse a foto e eu, mais uma vez, não fiz. Ele parou e explicou à militar que não poderíamos leva-la porque o carro estava cheio. A militar respondeu sorridente todo tempo. Seguimos e ele dizia que não entendia esse medo que parecíamos ter de pessoas como nós que, como qualquer outra, servia à pátria, sendo, portanto, motivo de orgulho, tendo espaço para beleza e admiração. É verdade, Júlio! Mas no Brasil é diferente...
Poucos anos depois Júlio foi no Brasil. Num dia que jantamos juntos, ele contou como decorreu sua visita a uma grande fábrica de chocolate. Experiência interrompida porque ele se recusou a passar por tanta humilhação, culminada com a entrada dos visitantes em uma sala, com cronômetro ligado, onde cada um tentava pegar o máximo possível de chocolate. Foi demais para ele.
Júlio contou também que um dia, no Rio de Janeiro, viu uma criança correndo em uma bela paisagem. Achou a cena tão linda que foi “sacar una foto”, mas foi interrompido pelos pais, que de modo veemente não autorizaram. “Eles acharam que eu ia fazer o que?”, e seguiu com seu inconfundível jeito cubano apaixonado e bélico: “vocês acham que vivem em liberdade? Vocês são uns idiotas! Que liberdade é essa? Vocês não sabem o que é liberdade!"
O desafio de Júlio de ontem me fez lembrar de tudo isso. Do orgulho dos cubanos em relação aos profissionais, iguais a nós, que servem à pátria, à humanidade. Gente respeitável, sempre, porque as hierarquias e a organização social é de outra ordem. E os seres humanos, todxs, valem.
Em tempos de pandemia, isolamento e “salve-se quem puder”, em que muitas vidas estão em jogo e ainda há quem esteja mais preocupado com a crise econômica, penso com ainda mais clareza que a maior burrice do ser humano foi e é a ganância sustentada pelo capitalismo que demoniza o Estado e vira as costas para o povo.

Emiliano e Laís 
Arruda dos Vinho
30/03/20202

                                                         

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